Estar entre os meus, escutar
aquilo que eles proferem, proclamam, reclamam. É assim, que eu desenho meus
dias, nem sempre os vivo como quero. Mas, quando posso, estou lá. De volta, e
envolta de pessoas que não preciso explicar porque me fazem tão bem, eu nem se
quer saberia. Eu, experimento isso e só.
E assim, de carona na pesquisa de
outros, fui ver Raimunda, a quebradeira. Em sua casa rosada e de portas azuis.
No assentamento Sete Barracas, São Miguel do Tocantins. O contato inicial é
prazeroso, ser recepcionado com alegria, atravessar toda a casa e nos
acomodarmos na conhecida cozinha. Porém, em poucos minutos de conversa, o
cansaço da idade, das doenças mal cuidada torna-se notório, no olhar, no andar,
no respirar ofegante da velha senhora. Conta pausadamente sobre a vida, sobre
sobreviver a tantas adversidades imposta pela luta. Inicialmente uma luta pela
terra, depois para permanecer nela. Um cotidiano, de pouco conforto.
A velha garrafa em cima da mesa é
naturalmente um convite para a partilha do café. Logo depois, o almoço. Com toda
limitação do corpo pesado e com auxilio do fiel “Moisés” o almoço fica pronto
na hora de meio dia, não nos deixaria sair de sua casa sem essa refeição. Fala
incansavelmente, tem mais episódios para narrar, registrar, publicar.
Com todas as limitações física, organiza do lado da casa, um cômodo
com tantas coisas já feitas. Fotografias, publicações diversas. Dessas, exibe o
filme “Raimunda. A Quebradeira” com tanto orgulho. Pois, deste ela tem
participação financeira com a venda dos DVD, ajuda na compra da medicação diária.
Logo as horas passam, o tempo de deixa Raimunda, vai se aproximando
com o adiantar do sol. Volto pra casa, totalmente abatida por fotografar
mentalmente, o acervo que documenta a vida dessa mulher, correndo serio risco
de desaparecer o que tem de palpável. Uma camponesa, que se destaca entre
tantas, pela historia que construiu em torno de si. Experimentou a “formação” dos movimentos sociais,
que partilhou cafés com Josimo. E que
infelizmente o viu tombar. Que sobreviveu a essa dor de mãe que é
adotado pelo filho. É assim que fala de Josimo, o padre assassinado por lutar por
melhoria da vida de um povo. O retrato desse mesmo homem que faz parte da vida
de Raimunda. Ela ainda o sente presente. Está lá, comido pelos cupins, como
muitos outros documentos de tamanha ou igual importância.
Já estou em casa, no que chamo “Casa
de Babaçu” e questiono-me. Será que mesmo sabendo disso vou ficar aqui, nessa
sala fria escrevendo essa agonia como se fosse uma ficção, e também fechar os
meus olhos para esse episodio?
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