segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Miscelânea


 Tive que descobrir o significado da palavra: Miscelâneamistura de várias coisas; mixordia. (Dic. Michaeelis) para entender o que dizia um de meus alunos da turma de alfabetização de adultos da comunidade que frenquentei por um certo (e bom) tempo. Na teoria eu busquei lá mesmo! No dicionário. Facilitou minha vida, para entender o que dizia o meu velho aluno, de quase 80 anos, evangélico da Assembleia de Deus, que frequentou pontualmente a sala de aula, por mais ou menos seis meses consecutivos. Sempre que as conversas paralelas tomavam conta da sala de aula ele comparava com uma Miscelânea. Lembrando que, os alunos concluiram seus estudos. A palavra  Miscelânea, tornou-se comum à todos que ali estudavam. Depois desse episódio já se passaram anos  superiores a quantidade de dedos de uma mão só.


Outro dia, fiquei sabendo que receberia em minha casa, uma hóspede e que pouco sabia de Imperatriz. (uma chegante). Querendo eu, ser  uma excelente anfitriã levei a nova moradora da casa do quarto azul,  cuidei  de apresentar a cidade, primeiro lugar visitado: UEMA - Universidade Estadual do Maranhão. Já que  tratava-se de uma estudante. Mercadinho Bom Jesus, Beira Rio, Quatro Bocas entre outros.  No entanto  queria apresentar algo diferente.
Então, faltava aquele velho passeio, em um local bastante inusitado o mercadinho. Sempre levo visitantes por lá, já é quase um ritual de passagem. E logo, no meio do emaranhado de gente, coisas, cachorros, carrinhos empurrados por carregadores, biclicleiteiros (como diz minha amiga Nalda). Tinha até padre naquele espaço social geográfico, sem fala aqui da quantidade de lixo que é gerado durante toda a semana  mas sobretudo a cada domingo, por feirantes e fegueses.

O Mercado Vicente Fitz, mais conhecido por Mercadinho, maior centro abastecedor de hortifrutigranjeiros da região tocantina, é um verdadeiro universo paralelo. Esses espaços são réplicas de mercados de pulgas, autênticas feiras de São Joaquim, onde podemos encontrar, não só comida e bebida, como artefatos indígenas, cera de abelha, utensílios domésticos feitos de madeira e alumínio batido, castanhas, sementes, espaço para troca de bicicletas, geladeiras de segunda mão, incensos e coisa-e-tal.http://www.overmundo.com.br/guia/sim-nos-temos-o-mercado-das-pulgas-digo-o-mercadinho.

O Mercado das Pulgas original é o "Marché aux puces" de Saint-Ouen, nos subúrbios do norte de Paris, um grande bazar ao ar livre (um dos quatro existentes em Paris) que recebeu seu nome por causa da venda de vestuário, muitas vezes infestado por pulgas. http://pt.wikipedia.org/wiki/Mercado_das_Pulgas.



Os odores? 
Ah, esses são  inconfundivies e dos mais variados possivéis: peixes sendo tratado ali mesmo, espetinho assando e o povo degustando, tem banquinha de panelada pra um bom maranhense que se preze não perder o costume e a banquinha de cuzcuz de arroz e bolo cacete fritinho no azeite de babaçu. Pense numa mistura de cheiros e ainda os cheiros naturais dos suvacos  misturados as borrifadas de cigarros, tangirinas, cupu-açu ,. è cheiro  ruim e bom que tu se embriagas.

Então, eu queria dizer para a visitante o que era mesmo aquilo. Aí, me veio uma lembrança de uma imagem conhecida, uma saudade de um tempo e de uma palavra: Sim, sim, sim.  meu aluno, quase centenário que ia  a escola mais para ver outras pessoas do que para aprender algo, já que eu fui quem mais aprendi com ele.  Deixou de ir à escola quando ficou viuvo e perdeu o desejo de sair de casa, quis mesmo contnuar a ir somente à igreja. Compreendi, mas me entristeci  por saber da falta que ele faria.  Minhas lembranças  foram invadidas com a imagem do ancião, aquele que me fizera aprender sobre a palavra miscelânea.  Como não lembrar da palavra miscelânea? Como lembrar, só por lembrar?  Ali sim acontece uma miscelânea no sentido mais literal da palavra.




Era um domingo, dia de pico no mercadinho,  e  com certo prazer, apresentei, para a minha hóspede européia (com pele e rosto de baiana) um lugar onde as coisas acontecem, onde existe, todas as coisas e todas as vozes são ditas ao mesmo tempo e no mais alto volume emitido pelas centenas de gargantas que disputam OS FREGUESES na força do gogó. Preços diferenciados para a mesma coisa, coisas com nomes de coisas, e coisas sem nome. E que depois do meio dia, o silêncio reina absoluto no espaço mais democrático da cidade "Portal da Amazônia" Imperatriz - MA - Brasil.



Creditos fotos: Fany

Sempre que posso, volto a fazer paseios-compras pelo mercadinho, que de mercadinho não tem nada, é enorme.  chego a emagreçer gramas, percorrendo as ruas de cima pra baixo e de baixo pra cima, pechinchando o melhor preço do peixe, do milho em espiga, do doce de buriti, do fumo de rolo, das cabacinhas, do quiabo e da fava. Mas na verdade o que mais me leva ao mercadinho é o cuxá, lá sim, senhor! O cuxá reina. Nossa!!! Tempo de cuxá (safra) é no mercadinho que eu cometo todos os meus pecados.


Os Locatellis, sim. foram incontáveis os nosso dias de passeios e compras fartas, na feira do mercadinho. Resultando em almoços de domigos que se tornaram inesquecíveis.(nossa preferencia de consumo: verduras fresquinhas)


O nome: Mercado Municipal Vicente Fitz




As crianças?
sim.
Elas estão lá, naquele meio chafurdo.
também anunciam suas coisas,
já dominam a arte da conquista dos cliente.


E aí,  freguesa vai corante hoje?


 

sábado, 26 de setembro de 2009

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Arcoílio - Lilia Diniz


Este sol que se põe
na tua fronte
encandeia meus olhos


Vejo tuas mãos
sempre a tecer os dias
floridos, nunca cinza.


E com o vermelho barro
que trazes na boca
provas que a esperança
traz mais de uma cor.


Vejo um "arcoílio"
um pé de estrela,
e uma cuia de sonhos
a cada palavra nascida de ti.






Autoria da poestisa maranhense Lilia Diniz
à Maria Querubina da Silva Neta
Liderança camponesa, Assentada, Sindicalizada, 
Mãe, quebradeira de coco e guerreira.
*Arcoílio - termo criado por Querubina quando se refere 
ao arco-íris e que para ela simboliza todas as populaçoes 
que se agregam em função de um mundo melhor.

Moradia (Vanusa Babaçu)


Dentro de mim
mora um anjo
que tem a pele morena
e a boca de carmim


Dentro de mim
mora um anjo
com cabelos de carrapicho
e os olhos cor do mel



Dentro de mim 
mora um anjo
que passeia
entre o céu e o inferno
e só volta quando quer!


Credito fotos: Bel Babaçu

Volátil

Sou terra ...

Sou a bosta do boi

sou o velho riacho,
correndo em sentido único.

Sou lodo de tuas pedras

poeira que se faz nuvem em tuas estradas de chão batido.

Sou curinga, a palmeira centenária solitária e altiva

Sou pindoba, a nova e insistente palmeirinha!

Sou o pau....sou o machado

E ...

Morro todos os dias

e a cada instante, renasço em ti.



Foto  e texto: Babaçu
Fim de tarde, nas estradas do sul do Maranhão


Dedico esses escritos, para aquele que é parte de mim: Roberto Henrique

sábado, 19 de setembro de 2009

Fogareiros

foto: Vanusa Babaçu
Comunidade Petrolina



Foto credito: Alexandre Almeida


fotos creditos: Vanusa Babaçu



























De barro e ferro
o fogareiro substitui as trempes muito usada em tempos pretéritos por camponeses,
bastante comum nas comunidades rurais.


onstruído de forma artesanal, necessita de vergalhões de ferro que fazem  uma especie e tela para receber o braseiro escarlate das brasas do carvão.
foto de: Alexandre Almeida


è construído pelo homem da casa, no entanto as mulheres também podem ser excelentes artifices de fogareiros.

ada moradia das comunidades rurais, exibe lá no ultimo compartimento da casa  o fogareiro, cada um com designer diferenciado.


São elaborados para acomodar a quantidade de panelas de acordo com a quantidade de moradores da casa.

Vanusa Babaçu
Tempos de andanças







fotos:

Arquivo pessoal: Vanusa Babaçu

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Velho Andirobal



























Riacho Andirobal,
atravessa toda a Reserva Extrativista do Ciriaco em Cidelandia-Ma,
(Unidade de Conservação Federal) Mata ciliar devastada,
as grandes árvores com suas raizes de fora, outras já não
suportaram a violencia da devastação. A areia sufoca o leito.




 Enchestes os olhos do velho Zé Ciriaco
enfetiçando-o sem demora,
arma-se rancho nas tuas proximidades.

Na certeza de que os ocupantes de teu leito
encheriam as muitas barrigas que logo ali se achegaram
as mesas seriam fartas.
Cheio de frescor,
tua curva divisora dos locais de coletivos banhos
banho das mulheres, nunca invadido por homens
banho dos homens freqüentado por todos.

Tuas margens?
Nuas?
Tuas sombras, tuas grandes árvores cadê?
Seu leito tão fundo agora é de lagrima?
Tuas margens?
Teu zelo, necessário?
Receberás?

Tua resistência, tua teimosia?
até quando será?

Velho Andirobal!!



Vanusa Babaçu Tempo de Pesquisa -Tempo de Observação -Tempo de vivência Na Resex Ciriaco
Riacho Andirobal!!

Vanusa Babaçu
2006 a 2008


O campo é verde?



creditos fotos: Maria José Barros


ENTÃO EU ME PERGUNTO:

TU FAZ ARTE?
COM QUE OLHOS?

QUAIS OBRAS DE ARTES ENFEITAM TUAS PAREDES DE ADOBO?

É CARINHO, O SENTIMENTO NO ALISAR DA CONSTRUÇÃO DO FOGAREIRO?

A FORÇA QUE AMASSAS COM TEUS PÉS,
O BARRO PARA O LEVANTE DE TUAS PAREDES
É CONSTITUIDA DE TUAS DORES?

ONDE APRENDEU SER FACEIRA NO CARREGAR DE TEU CÔFO?
ENFEITAS TUA CINTURA COM IMBIRAS E CABAÇAS?

NA TUA LIDA, ENCHE TEUS OLHOS DE PAISAGENS DO AGORA OU DE SAUDADES?
E SERÁ, NO TEU MOCÓ SABEDORIAS A CARREGAR?


SIM.... EU ME PERGUNTO!
O CAMPO: É VERDE?



domingo, 13 de setembro de 2009

Velha Estrada do Arroz

ônibus que trafêga durante todo o ano na estrada do Arroz
quebrando quase todos os dias,
Publico que mais utiliza esse transporte:
Alunos que estudam em Imperatriz


Créditos foto: Vanusa Babaçu


Velha estrada do arroz,
emprenhadeira e parideira de vidas esperançadas!
Velha estrada do arroz,
validade marcada pelas estações do tempo,
teus invernos de lama,
teus verões empoeirados!

Velha estrada do arroz,
quem te percorre,
tem as roupas colorida do teu pó vermelho!
Quem te percorre,
finca muitas vezes os pés na lama!

Velha estrada do arroz,
tantos já fizeram teu percurso,
plantaram seus desejos,
emudeceram pelo tempo!

Velha estrada do arroz,
esquecida por muitos!
Velha estrada do arroz,
para tantos, a única!

Velha estrada do arroz,
todos os dias os sonhos são novos.
Velha estrada do arroz...

Velha estrada do arroz!
objeto de promessas quadriênais!
Estrada de verões e invernos em Coquelandia!


Estrada do arroz, 76 km de estrada de chão que interliga Imperatriz a Cidelandia, ambas cidades da região oeste do estado do Maranhão que também compõe a Amazônia Oriental brasileira.

Vanusa Babaçu
Tempos vividos em Coquelândia
Povoado fincado a 36 KM da estrada do Arroz

sábado, 12 de setembro de 2009

FABRICA DE CELULOSE PROMOVERÁ "BOTA FORA" NAS REGIÕES DOS COCAIS E TOCANTINS NO MARANHÃO

Foto creditos: Vanusa Babaçu - Estrada de Cidelandia- Ma, junho de 2008

No periodo de 05 a 31 de agosto a fabrica, paulista, de celulose SUZANOestará consolidando o seu programa de retirada compulsoria de comunidades tradicionais da região dos cocais e do tocantins. A empresa pretende desenvolver um complexo agroflorestal à base do plantio e processamento do eucalipto naquela região. Um dos jornais de maior circulação ( O Estado do Maranhão) diz que as cidades atingidas são:Porto Franco, Amarante e carolina; não é verdade. O complexo de plantação do eucalipto envolve, só na região dos cocais, 21 cidades eatinge centenas de povoados, comunidades tradicionais(quilombolas)agricultores familiares, atingindo , principalmente, seu modo de viver, produzir e reproduzir-se socialmente. Para organizar o "bota fora" (termo utilizado pela empresa em seu termode referencia (Projeto SPC 1008) , no que diz respeito, ao destino dospovos das terras tradicionalmente ocupadas) a SUZANO, papel e celulose, contratou a STPC do Paraná que, por sua vez, contratou no Maranhão: oInstituto de "Desenvolvimento Sustentavel"-IDESA. O esquema consiste em"escrutinar", a partir de um diagnóstico, a vidas das populações dessa regioões. Temas como uso e posse da terra, lideranças locais e movimentos sociais são informações altamente valorizadas no diagnóstico. A metodologia adotada pela STPC -PR/IDESA-MA( ao qual foi convidado para atuar como antropólogo) é altamente neocolonizadora. Ela consiste em pagar altos salarios para profissionais de nivel superior(engenheiros agronômos, economistas, sociologos, antropologos, assistentes sociais,Mestres em agroecologia, em biologia, etc) para promoverem o escrutinio a partir de oficinas e uma pesquisa socioeconomica e antropologica altamente high-fast. Ou seja, quando os moradores abrirem os olhos e perguntarem pra que serve aquilo, eles ja se foram. Desse modo, coerente com minha ética e responsabilidade que avalia as consequencias de um ato tão desastroso como esse; além disso,projetando, metaforicamente, o futuro com poços secando, plantas eanimais silvestres morrendo; homens, mulheres, crianças e adolescentes morrendo de sede, de fome, ou migrando para cidade para seprostituir; entregando-se as fazendas de trabalho escravo, ou mesmo, de trabalho infantil. A verdade é que a partir desses valores (eticae responsabilidade) ou desse pesadelo, que resolvi fazer um parecercientifico(EM ANEXO) e, me desligar, oficialmente, da pesquisaantropologica high-fast proposta pelo ITPC e pelo IDESA/MA . Por outrolado, resolvi escrever esse artigo, denunciando e solicitando as pessoas sensatas que olhem a carta e mande sugestões e propostas para nos contrapormos a neocolonização do século XXI no Maranhão; afinal, o diaboé high fast e temos que sê-lo também; caso contrario, teremos o inferno como unica certeza para todos nós; devotos ou não devotos do demo.
Denilton Sociologo -Especialista em sociologia das interpretações doMaranhão: Povos, comunidades tradicionais, politicas etnicas edesenvolvimento sustentavel.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Pés calçados cansados





Meus pés descalços
Já correram vidas,
Foram freios, às vezes.
Outras vezes asas!

Perderam-se por alguns caminhos!

Das encruzilhadas, nunca se esconderam.
Trilhas, caminhos, veredas seguiram.
Fizeram voltas,
Novos recuos
Muitas evidências
inúmeros rastros.
Caminhos

caminhadas e incertezas.

Meus pés
Nem sempre descalços

enquadrados
Cansaram-se.