sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Populações camponesas do cerrado - Expedição Fotográfica - Peter Caton


O bom de viver muito, madurar, envelhecer é que sempre existe a possibilidade de renovação como eu já citei inclusive sobre mim mesma em textos pretéritos. “Sou terra ... sou a bosta do boi, poeira que se faz nuvem em tuas estradas de chão batido. Sou curinga, a palmeira centenária solitária e altiva. Sou pindoba, a nova e insistente palmeirinha! Sou o pau....sou o machado E ... Morro todos os dia e a cada instante, renasço em ti.” (Babaçu) Esse renascimento, acontece de fato mas, temos uma grande culpabilidade para ver ele incidir. Se tu ficar à espera, inerte seguramente criarás lodo, e só.

De forma que, episódios grandes ou acanhados, contribuem para esse meu renascimento diário. Como a exemplo da continuidade e afirmação de meu nome escolhido, agora carregado por minha neta ANA JÚLIA BABAÇU. Senti-me renascida com isso, outra babaçu e agora Babaçu com letra grande. Passagens que tomam dimensões extraordinárias em minha vida, experiências que implicarão para todos os dias que eu permanecer de corpo presente nessa terra de meu Deus, e nossa também. (ou que pelo menos deveria ser).

Organizar mochilas, viajar, pra longe ou perto, retornar, desfazer os mocós etc. elementos que me tornam um pouco caixeira viajante. Os itinerários são diversificados, inéditos ou às vezes bastantes conhecidos dos meus olhos, mas nunca os vejo da mesma forma, existe sempre subsídios novos, ou meu olhar trata logo de se fazer diferenciado para os mesmos panoramas. Minha última viagem com data vermelha no calendário, 12 de outubro de 2010, registrar-se no meu diário biográfico como em alto grau de importância e será bem lembrado por mim por muito tempo, ou quem sabe jamais será esquecido. 

Para essa viagem Que se iniciou logo nas primeiras horas matinais do feriado de Nossa Senhora Aparecida. Tomamos direção, bastante conhecido por mim. A velha Estrada do Arroz. Tornei-me parte como convidada. Tratava-se de em uma expedição fotográfica. Com objetivo principal de retratar a forma de ser, de viver e de permanecer das pessoas, nas áreas de transição ou, do cerrado brasileiro. Trabalho recomendado pelo ISPN - Instituto Sociedade, População e Natureza – ISPN. Inclusive foi acompanhado, de perto por Rodrigo Noleto, Engenheiro Florestal, maranhense, com muito tempo de vivencia em Imperatriz, atualmente residindo em Brasília em função de trabalhar na referida instituição. 

A captura das imagens irão complementar um banco de dados de salutar importância para conhecermos por outro viés a dinâmica dos habitantes do cerrado brasileiro. Como acrescenta Noleto: “estamos tentando captar imagens do Cerrado para que haja maior visibilidade, tanto aqui no Brasil, quanto em outras partes do mundo[...]Depois iremos a algumas localidades com paisagens características. Neste caso, pensei nas mulheres de Petrolina e Ciriaco” aproveito para assinalar que, as quebradeiras de coco babaçu estão contidas entre o que se entende por  populações tradicionais.  

Só pra conhecer um pouco dos outros expedicionários:

Peter Caton (1976) cresceu junto a crianças órfãs em Scarborough, norte da Inglaterra, onde seus pais cuidaram de um grande orfanato. Sob a influência dos pais, Peter conscientizou-se dos problemas sociais, resultando na decisão de sua carreira profissional. Desde 1998, após sua graduação em Fotografia em Middlesborough, Peter tem se dedicado à documentação trabalhos relacionados a causas humanitárias e sociais.

Cristiane Aoki (1976) nasceu em Botucatu, SP e se formou em Design Gráfico. Iniciou sua carreira profissional como professora do SENAC Comunicação e Artes. Na faculdade de Design Gráfico do SENAC lecionou a disciplina de Fotografia Digital e desde então iniciou sua especialização em fotografia. Em um curso de pós-graduação de Design e Fotografia, estudou A Fotografia como Design dentro da linguagem semiótica. Em Londres, continuou seus estudos de mestrado no campo da fotografia social e das novas mídias na Goldsmiths College.

E eu, Vanusa Babaçu, pesquisadora, assessora técnica do CENTRU - Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural -MA, fotógrafa amadora,. A função na viagem a mim atribuída era de navegadora para Noleto, e de facilitadora entre os moradores das comunidades que seriam fotografadas por Piter Caton e Cris. Haja vista a minha inserção e frequente presença no seio dessas comunidades, ora desenvolvendo algum trabalho, outra hora,  observadora,  pesquisadora, ou  visitante. Enfim, sempre encontro um motivo especial  para voltar e permanecer com esse povo, do qual eu sinto que é ali que está fincado as minhas raízes.

Na estrada:


No planejado inicial, nossa primeira parada seria no povoado Petrolina, (último povoado de Imperatriz, sentido Cidelândia. Estrada razoavelmente boa para o tráfego de um carro de passeio. Rodrigo Noleto, (direção) Peter Cater (carona) eu e Cristiane Aoki, (banco de trás). Noleto, fez às vezes de motorista e, diga-se de passagem: excelente motorista que também conhecia a estrada, mas contabilizava alguns anos sem fazer o trajeto. Peter e Cris fotografavam com o olhar cada metro da paisagem, que alterava entre áreas cobertas de babaçuais contrastando com grandes extensões de plantações de capins. Para sorte dos visitante, uma chuva no dia anterior colaborou para pouca poeira da nos quase 70 km da sofrida estrada de chão batido.

Quebramos o protocolo da viagem, ao avistar Coquelandia, um povoado que contabiliza 300 famílias de trabalhadores rurais, que tem como data de inicio os idos anos 50 do século passado. Migrantes de varias partes do Nordeste, que povoaram a estrada do arroz nos bons anos da fartura do arroz, nessa região. A interrupção da viagem foi ideia minha com a intenção de mostrar de perto para os “novatos” a atraca e sua relação de pertença à palmeira de babaçu. A atraca é uma planta parasita que nasce principalmente nas palmeiras de babaçu, e contorna a palmeira chegando inclusive a sufoca-la, chegando inclusive a mata-la.

Nada dessas informações forma significante para o fotógrafo, mas ao sair da casa do barbeiro e ferreiro aposentado, ele avista um cenário importante para ser fotografado. Na sal principal da moradia rural duas fotografias  cada uma com sua simbologia, um quadro a fotografia de Jesus Cristo e de lado sem diferenciar a importância uma fotografia também emoldurada do Flamengo, Elementos que incitaram a ser improvisado rapidamente na sala do Sr. Nezinho, com sua permissão evidentementeum verdadeiro estúdio móvel para que o mesmo fosse fotografado com tranquilidade, em uma de suas ações cotidianas no fazer do seu balaio, uma espécie de cofo decorativo feito da palha do babaçu, que o mesmo trançava  ao chegarmos de surpresa em sua casa. 

Atrasamos a viagem em aproximadamente uma hora, seguimos e antes de alcançarmos Petrolina, nosso itinerário inicial,  outro aglomerado de trabalhadores rurais, chama a atenção de Piter. “Os sem terras da estrada do Arroz” que marcam presença há sete anos vivendo e sofrendo os mais variados riscos entre a cerca e a estrada, em terras da correspondentes à antiga Celmar, hoje terras pertencentes a empresa de papel e celulose SUZANO
Nessa localidade o fotógrafo se se aplica a fotografar a paisagem de extrema miséria exibida a olho nu, de uma parcela da sociedade da  cidade Princesa do Tocantins, A cidade Portal da Amazônia, a grande Imperatriz - MA. um povoamento  pouco  ( OU NUNCA) lembrado por todas as autoridades de  Imperatriz e do Brasil. 

É de ciência dos governantes de todas as esferas: Municipal, estadual e federal. Dando pouca importância para a dinâmica cruel que  faz a  existência daqueles homens e mulheres e crianças. Ignoram-os ou fazem questão de não lembrar. Piter retrata somente um morador, o sr, Pedro, esposo de dona Maria de Nazaré. Que  com todo gosto apresenta, sem pudor o interior da sua morada, toda improvisada de babaçu, das paredes ao telhado e ainda os girais, pra dormir e pra resguardar as panelas. No quintal que distancia a casa em no máximo 3 metros da evoluída plantação de eucaliptos, mostra o tímido amontoado de babaçu, de onde retira boa parte do complemento alimentar do casal.

Com o adiantar da hora,  seguimos viagem deixando para trás uma situação mácula social, que segundo os resistentes não tem noção de quando, como ou se um dia será resolvido. Nosso retrovisor logo se desfaz da imagem inesquecível, aos olhos de quem tem o mínimo de humanidade dentro de si.  Cinco quilômetros  percorridos nos faz alcançar a comunidade rural de Petrolina, onde um grupo de quebradeira de babaçu, organizado formalmente através de uma associação,  da qual o CENTRU-MA, presta assessoria há muito anos, inclusive com projeto em andamento do PPP-ECOS, outra organização ligada ao ISPN. Esperam-nos para relatar um pouco de suas vivencias, dificuldades, no dia a dia da quebra do babaçu, bem como para serem retratadas por Piter e entrevistadas por Cris. A atividade ali retratada foi a extração do azeite de babaçu.

Antes do cair da noite,  continuamos a expedição, rumo à Reserva Extrativista do Ciriaco. Cidelandia-MA. Localidade que aglomera também outras famílias que dependem da extração das amêndoas do babaçu, para completo de renda familiar. Logo todos os componentes estavam à vontade com o publico a ser trabalhado. 


A moradora mais velha da resex. dona Maria Colodino que mantém atividades com o babaçu foi retratada em casa, na agilidade da retirada do (bróio ) mesocarpo do babaçu.
No fim da tarde aproveitando a luz natural fizemos a primeira tomada das fotografias externa. É a quebradeira de coco Faustina Colodino que lidera o grupo de mulheres a serem retratadas para o trabalho. No dia seguinte nova tomada de fotografias com as quebradeiras de coco da Resex, (lote da Faustina)  e para finalizar a etapa desse lado de cá, (pois o grupo vai tomar rumo ao cerrado sul maranhense) retornamos a comunidade Petrolina, para dessa vez registrar a retirada do Amido do mesocarpo. O brói é triturado em uma maquina forrageira, improvisada para essa atividade.



A experiência, foi riquíssima, aprendi inúmeras dicas com a dupla de fotógrafos, ainda conseguimos dar uma olhadinha no majestoso rio Tocantins, na parte correspondente a comunidade de Viração, local que escolhemos também para as deliciosas refeições a base de peixadas e galinha caipira. Assim, retornei pra casa com o experimento de viver novas troca de experiências e saberes, entre fotógrafos profissionais, fotógrafa amadora, e os verdadeiros detentores do saber: Os camponeses e camponesas que compõem o universo peculiar do campo maranhense. O convite para compor essa equipe nesse importantíssimo trabalho contribuiu de forma particular para o meu aprender, reviver, maturar, renascer...


2 comentários:

E quando eu estiver bobo, sutilmente disfarce disse...

Voce escreve muito bem. Com certeza irei ler outros post e vou comentar. beijos e abraços.

Anônimo disse...

tu naum aparece nas fotos naum
um beijão na boca
mayron