quinta-feira, 29 de abril de 2010

Os loucos e insensatos do MST

Os loucos e insensatos do MST estão em marcha


Gerivaldo Alves Neiva*
Trafegava ontem (22.04) pela BR 324 (Salvador - Feira de Santana) e vi a marcha do MST pela rodovia. Saíram de Feira de Santana e a previsão de chegada a Salvador é na segunda-feira (26.04). São mais de 100 km de caminhada.  Fala-se em 5 mil ou 6 mil participantes. Vi muitos jovens e mulheres participando da marcha.
Segunda a imprensa local, “a manifestação tem como objetivos cobrar mais agilidade na reforma agrária no País e cobrar do governo a realização de obras negociadas em manifestações anteriores, como a construção de casas e escolas em 120 assentamentos no Estado. A marcha também tem o caráter de protesto contra a criminalização dos movimentos sociais e contra a impunidade no campo, afirmou o deputado estadual Valmir Assunção (PT), que integra a marcha. Com ele, estão outras lideranças do partido na Bahia, como o vice-presidente estadual da legenda, Weldes Valeriano. Na programação dos participantes, estão previstas caminhadas pela manhã e atividades culturais - como curso de formação política e exibição de filmes - nos outros períodos”. (leia mais...)
Antes de encontrar os membros do MST em caminhada, parei em um posto para abastecer o carro e puxei conversa com o frentista sobre a marcha. Comecei perguntando se estavam muito na frente e ele me respondeu que tinham passado por ali na manhã anterior e que àquela hora (+/- 9h) já deveriam ter levantado acampamento e estavam novamente na pista. Em seguida, tentou me confortar argumentando que era feriado, o trânsito não estava intenso e talvez não encontrasse muito engarrafamento. Respondi que não me incomodava muito, pois o MST tinha o direito de lutar e de se manifestar. Ele se animou para continuar a conversa e alegou que também gostava do MST e da coragem deles, mas não gostava quando se tornavam violentos, destruíam plantações e casas das fazendas invadidas.
Desejei bom dia de trabalho ao frentista e segui viagem. Depois que passei por aquela multidão de homens e mulheres, caminhado em duas filas indianas, cantando e demonstrando que estavam voluntariamente naquela caminhada, pensei comigo mesmo: são mesmo loucos e insensatos! Ora, são mais de 100 km de caminhada e nesta época do ano costuma chover muito no recôncavo baiano. Loucos e insensatos, mesmo!
Mais na frente, lembrei-me da observação do frentista com relação à violência do MST e pensei: também, o que se pode esperar de loucos e insensatos? Que vão entrar com muito cuidado nas fazendas que ocupam, cuidar bem da casa, deixar tudo limpo e arrumado? Não, nada disso. São loucos e insensatos!
Mas o que os levou à loucura e à insensatez? Por que tantos jovens, moças e rapazes, já perderam a razão e os bons modos ainda na flor da idade?
Esta doença é hereditária e foi causada por mais de 500 anos de exclusão e opressão. No início, os índios, depois os negros, depois os posseiros e pequenos colonos foram excluídos da terra e lançados ao léu. Agora, séculos depois, tornaram-se “sem-terra” e marcham pelas rodovias do país, moram em acampamentos, ocupam fazendas, derrubam laranjais, queimam sedes luxuosas, matam bois para comer a carne... São uns loucos e insensatos.
Sendo assim, diferente dos “doutores da lei”, eles não sabem distinguir os vários tipos de posse, não sabem distinguir posse de propriedade e, muito menos, o que sejam os tais “interditos proibitórios.” Para eles, interessa somente a terra e os alimentos que dela brotam. Terra, portanto, não se confunde com posse e, muito menos, com propriedade. Terra é mãe e produz alimentos, é o local, o espaço sagrado e detentor das possibilidades de continuidade da espécie humana sobre o planeta. Propriedade, de outro lado, é mera abstração, conceito, idéia, pedaço de papel, registro em cartório...
Não compreendem os loucos e insensatos do MST, enfim, por que tantos “letrados” andam dizendo por aí que a “propriedade” é um direito sagrado. Ora, sagrada é a terra, e não a propriedade dela! Esse destino místico da terra, porém, não se realiza com pastos e pisadas de bois ou eucalipto para virar celulose, mas com a presença do homem, como se pertencessem um ao outro, plantando e colhendo, no cio da terra, alimentos para o mundo. O homem, portanto, não pode impor qualquer função ou amarras à terra, pois ela já tem desde sempre o seu destino inafastável, que é oferecer a vida ao homem que lhe habita.
Pensando bem, aliás, o que seria da vida, da liberdade e do mundo sem os loucos e os insensatos?
            Salvador, 22 de abril de 2010
            * Juiz de Direito

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Evaporar - Lanny Gordin


O rio fica lá, a água é que corre
Chega na maré, ele vira mar
Como se morrer fosse desaguar
Derramar no céu, seu purificar
Deixar pra trás sais e minerais.
Evaporar.


Lanny Gordin

quarta-feira, 21 de abril de 2010


Por tuas mãos ateio o céu


E roubo estrelas amarelas


Tudo está escrito


Em papel renovável


Marcado com tuas digitais


Eu cego caminho seguro 


Paralelos caminhos


O chão agora palmilhado


Por nossos rastros


Deixam para trás


Saudades de amores triviais


Que encheram nossos dias


E por tuas mãos


Guio-me


E roubo a lua em quarto crescente


E te presenteio com beijos baratos


Ternamente vulgar


Arremato meu sexo com teus dedos


E tuas mãos


Conduzem-me para horas de pecados novos.


Por tuas mãos...




Meu coração não comporta todo o exílio de ti
Demasiado sem freio desata todos os liames
Eu, sem saída.
Historio, transcrevo,comento.
Leio, releio trechos conhecidos.
Fecho os olhos.
Encadeio as portas e tu voltas terra-a-terra
Expande-se pelas minúsculas frestas
Eu desarmada
Apresento-te minha radiografia transparente
Dou-te esse punhado de amor
Feito de letras convertidas em palavras,
Imprescindíveis ou não.
Qual deixo para que leia na minha estação de afastamento.
Tu serás senhor de um tempo posterior.

Mãos de Sarah - Vanusa Babaçu

O negro de teus cabelos
Meu desejo incontido
Entre dentes e risos
tuas mãos que me guiam
Nos caminhos de teu corpo quente
Sigo,  cega e nua e sem pressa
caminhos desconhecidos





























fotografias: Vanusa Babaçu
Mãos de Sarah Filgueiras








quinta-feira, 15 de abril de 2010

Liberdade? Ana de Freitas


O meu pensamento, que outrora voara despreocupado
Como as folhas embaladas pela brisa tépida do verão,
Foi certo dia atraído para um tempestuoso furacão...
Vi então a minha razão ser arrancada do meu corpo
Como ervas daninhas desbastadas de solo fecundo.


Ana de Freitas


http://jovenspoetasvadios.blogspot.com/
fotografia: Vanusa Babaçu

terça-feira, 13 de abril de 2010

 
A viagem não acaba nunca.
Só os viajantes acabam.
E, mesmo estes podem prolongar-se em
memória, em lembrança, em narrativa.
O fim da viagem é apenas o começo de outra. É
preciso voltar aos passos que foram dados, para
os repetir e para traçar caminhos novos ao lado
deles.
É preciso recomeçar a viagem. Sempre.”
 
(José Saramago)

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Cia Ilustre de Teatro

Ensaios prazerosos justificaram as excelentes apresentações do sexteto de atores 
ADRIANOPereira
CAIROMoraes
HENRIQUECelso
MARDONEGonçalves
PINHOGondinho
THÉRCYOYassuo
Integrantes da CIA Ilustre de Teatro, que no último fim de semana 27 e 28/03 apresentaram tres sessões da peça ENTRE O CÉU E O INFERNO, "O espetáculo possui um caráter social-existencialista e religioso, pois a discusão sobre essa vida aproxima-se do teatro do absurdo e do fantáStico, bem como do existencialismo de Camus. Passa em três planos: vida, morte e delírio, delírio esse que busca não a origem da natureza humana, mas há em torno desses planos os personagens que exploram os estereótipos, representações simbólica de Deus, diabo e homem".(Cairo Morais). A Direção de Pinho Godinho. Com essa breve temporada, encerram as águas de março do TEATRO FERREIRA GULAR de forma bem irreverente. Teatro lotado, interação entre atores e espectadores, espetáculo leve e gostoso de ver. Maiormente, pela capacidade inteligente do grupo de encenar uma peça teatral que prendeu a atenção do público presente durante as apresentações. Chamando atenção de forma bem particular para a construção do cenário onde brincaram com luzes e cores, utilizando-se de uma tecnologia barata (única) disponível no nosso teatro.
Fazer arte não é fácil, fazer arte em Imperatriz do Maranhão é ter mesmo um "QUE" de loucura, em cada um dos que ali mostraram sua cara, e sua ousadia.
Bonito de ver também foi a resposta do público que lotou nosso FERREIRINHA, prestigiando nossos ilustres. Sem deixar de mencionar a deliciosa interpretação do ator HENRIQUECelso, que deu um show à parte, sobretudo na sua forma de interagir com a pláteia. Fiu, fiu...Aplausos, para todos nós!!!!